quarta-feira, 29 de julho de 2009

Cada vez mais distante do preconceito que a associava apenas às construções populares, a alvenaria estrutural ganha espaço nos canteiros de obras brasileiros.

A volta da classe "C" ao mercado consumidor de imóveis e o empenho da engenharia nacional estão alavancando um sistema construtivo que parecia fadado aos conjuntos habitacionais populares. A alvenaria estrutural caiu, por fim, no gosto do meio técnico brasileiro, atraído pela redução de custos de até 30% proporcionado pelo sistema. A possibilidade de construir edifícios altos com apartamentos amplos – um edifício na zona leste de São Paulo já alcançou a marca dos 24 pavimentos e outros dois no Morumbi, zona sul, estão sendo construídos com até quatro dormitórios – tem enterrado alguns velhos preconceitos.

O antigo chavão de que um edifício construído com alvenaria estrutural não pode possuir hall de entrada, salão de festas ou subsolos não se sustenta mais. Na zona oeste de São Paulo, a construtora JHS está construindo um prédio residencial de 18 pavimentos-tipo e cobertura, térreo com 6 m de pé-direito e dois subsolos. A solução para viabilizar a alvenaria estrutural foi simples: executar uma laje de transição de concreto no primeiro pavimento, capaz de absorver as cargas das paredes portantes e distribuí-las por pilares até as fundações. Em resumo: do primeiro andar para baixo, trata-se de uma obra “normal”; a alvenaria estrutural sobe apenas a partir da laje de transição.

Uma das características interessantes do edifício de 11,6 mil m2 de área construída, cuja entrega está prevista para fevereiro de 99, são os esforços de vento absorvidos pelas paredes portantes. “A influência do vento na estrutura é quase igual à da carga vertical, por causa da altura e esbeltez do prédio”, explica o calculista responsável pelo projeto, César Pereira Lopes. O índice de esbeltez do edifício, que terá dez apartamentos de 42 m2 por andar, é 1:7. Ou seja, a largura do prédio será sete vezes menor que a altura total.

Economia

Uma das medidas de economia tomadas pela JHS para viabilizar o empreendimento foi empregar blocos de concreto com diversas resistências à compressão, de acordo com a faixa de andar executada. Da primeira fiada até o quinto pavimento, foram especificados blocos de 14 MPa. A resistência dos blocos cai à medida que sobem os andares, culminando com 6 MPa entre o 15o pavimento e a cobertura. “Não é preciso usar o mesmo tipo de bloco em todo o edifício”, afirma Carlos Alberto Tauil, gerente técnico comercial da Glasser, fabricante paulista que está fornecendo os blocos de concreto para a obra.

Solução muito semelhante foi dada pelo engenheiro calculista Wagner de Carvalho a duas torres, também de 18 andares, em Campinas-SP. Nessa obra, a Construtora Guidotti, de Piracicaba-SP, também adota a laje de transição sobre dois subsolos e o térreo, a partir do qual a alvenaria sobe com blocos de diferentes resistências à compressão: parte de 12 MPa entre o térreo e o sexto andar, reduzindo 2 MPa a cada lance de três pavimentos; os três últimos têm blocos de 4,5 MPa, todos eles fornecidos pela Tatu, de Limeira- P. A obra incorpora ainda outras medidas de racionalização, como sacadas, escadas e lajes, todas pré-moldadas no canteiro e içadas por grua.

Destinada ao consumidor de classe média alta, a obra de Campinas – com piscina, sauna e quadras esportivas – reforça a tese de que a alvenaria estrutural vem se “assentando” em imóveis mais nobres. O engenheiro Rogério Durante, do Departamento Técnico da Tatu, confirma a demanda crescente. Segundo ele, 60% da produção de blocos da empresa são estruturais.

Há casos, porém, em que a economia cede lugar à plena garantia de segurança, quando há o risco de uma eventual troca de blocos na obra. É o caso de um edifício residencial de 17 andares que está sendo erguido em São Bernardo do Campo-SP. Como existem outros prédios da Construtora Apolo em execução no terreno e os paletes são recebidos no mesmo local, a probabilidade de um operário utilizar o bloco errado aumenta muito. Por esse motivo, a construtora optou por blocos de concreto de 14 MPa para toda a edificação, que terá quatro apartamentos de 145 m2 por andar. Projetado pelo calculista José Luís Pereira, o prédio deve ser entregue em junho.

É importante salientar que a utilização de blocos com diferentes resistências é apenas uma entre várias formas de economizar com a alvenaria estrutural. Os maiores ganhos do sistema estão relacionados com a racionalização oferecida ao construtor. Se a obra empregar, por exemplo, pré-moldados de concreto (lajes, escadas e vergas) em composição com a alvenaria, a madeira e os carpinteiros podem ser dispensados do canteiro. Como os blocos vazados permitem a passagem das tubulações elétricas e hidráulicas, também não há necessidade de quebrar paredes. A somatória disso termina em redução de desperdício e economia no uso de fôrmas e concreto.

Sem armadura

As opções, porém, não se limitam às paredes portantes “recheadas” de graute e ferragem. Apesar de possuir alguns críticos, a alvenaria não-armada (que contém somente armadura de amarração, desconsiderada na absorção dos esforços) vem demonstrando um bom potencial técnico e econômico. Prova disso é um prédio de oito pavimentos da RAS que está em fase final de construção no Jabaquara, zona sul de São Paulo. Com térreo e subsolo, o edifício possui uma laje de transição no primeiro pavimento e emprega blocos de silicocalcário de 10 MPa.

“O controle em uma obra de alvenaria não-armada é mais fácil”, afirma o calculista Caio Frascino Cassaro, da Program Engenharia, que projetou o prédio. Como não se utiliza graute ou armadura nos blocos, a atenção praticamente se resume à qualidade da argamassa e ao prumo da alvenaria. O sistema, no entanto, é mais limitado. Nesse tipo de obra não são permitidas tensões de tração, que exigiriam armadura. Prédios muito altos, sujeitos a forte ação do vento, são, portanto, inexeqüíveis.

A Estrutura Ideal

Lecionar disciplinas de Engenharia em cursos de Arquitetura e Urbanismo é uma experiência excelente e uma oportunidade para reciclar conceitos e fugir da monotonia mental.

O aluno, sobretudo nos primeiros semestres, ainda não tem restrições e "vícios". Está, portanto, "livre para voar" e o ambiente acadêmico é o local propício para esses vôos experimentais. Para tanto, é preciso ter cuidado para não impor limitações nessa fase. Fazer isto, aliás, é negar a possibilidade de evolução da Humanidade! Basta olhar para trás e lembrar do que os céticos do passado afirmavam ser impossível ou impensável. Na verdade, a limitação era, apenas, deles, com sua vaidade, arrogância e preguiça. O tempo se incumbiu de substituir sua memória pela dos que desafiaram, criaram e ousaram. Logo, é fundamental dialogar, pesquisar soluções alternativas, alertar para os diversos aspectos: tecnológicos (sistemas e materiais), logísticos, ambientais e econômicos, que envolvem a execução da idéia e, tanto quanto possível, modelar.

É um enorme erro, embora quase inconsciente, do docente influenciar o aluno com preferências pessoais, pois é esse confronto da idéia proposta da Arquitetura, com o "estado da arte" da Engenharia, que embasa toda a inovação, criando uma salutar cumplicidade, onde os papéis se alternam e complementam na busca da solução ideal. É algo que deve começar na faculdade e continuar por toda a vida profissional!

A única premissa absoluta é que não existem limites absolutos, da mesma forma que não existe um único sistema ou um único material, panacéia para qualquer situação. Existe, sim, a solução ideal para uma determinada conjunção de fatores. Uma solução não é ideal, apenas porque mais rápida ou econômica. Ela o é quando, além de considerar todos os elementos já mencionados, assegura durabilidade e funcionalidade do empreendimento, com baixo custo de operacional e de manutenção. Uma solução construtiva barata - normalmente a privilegiada por leigos - pode redundar num custo de manutenção tal, que justificaria a adoção de outra, nem tão mais cara assim! De forma análoga, um prazo curto - político, por exemplo - só será uma variável positiva, quando implicar em inovação tecnicamente sustentável. Senão, não passará de uma "bomba-relógio", que poderá explodir nas próprias mãos de quem a escolheu, no caso de reeleições... Assim, uma decisão leviana pode resolver um problema político ou uma necessidade habitacional ou comercial imediata, mas tende a reduzir significativamente a vida útil do empreendimento e a credibilidade do autor. É hilário - para não dizer patético e revoltante - ver a reação de políticos, que criticam, com veemência e "autoridade", o desperdício de verbas com reformas de obras deterioradas "herdadas", ao serem lembrados de que eles próprios as definiram, em gestões anteriores... Infelizmente, esse "show humorístico", que é repetido à exaustão, custa muito caro para a platéia contribuinte!

Resumo: Concreto, aço, alumínio, plásticos especiais, alvenaria estrutural, painéis, argamassa armada, tensoestruturas, pré-fabricação, etc, são materiais e soluções que têm suas vantagens e desvantagens.

A estrutura deve ser estática e segura, mas produto de dinamismo e arrojo! Quem optar por um único "caminho" pode atingir o ápice, conhecendo cada pedra, cada curva, cada nuance dele. Mas, se "todos os caminhos levam à Roma", é mister conhecer cada um, para planejar melhor a "viagem".

A insistência e celebração de numa única fórmula - como repito para os meus alunos - só pode indicar duas coisas: conhecimento restrito ou interesse financeiro! Isso é compreensível para leigos e fabricantes, mas nunca para a boa técnica!

A correta avaliação técnico-econômica de todos os fatores influentes e a criatividade de arquitetos e engenheiros é que definirá a solução ideal! E o exemplo vem de "casa": a Faculdade; e dos "pais": os professores!